Intertimento

Não se admire ou pense que eu escrevi errado, o nome é "Intertimento" mesmo, algo de significado parecido com entretenimento. O que se busca aqui é interagir com uma linguagem simples e cotidiana, de forma a garantir a todos o entendimento acerca dos assuntos tratados.

domingo, 5 de abril de 2015

INTUIÇÃO X RAZÃO


A Intuição encontrou com a Razão para uma conversa, ou mais uma tentativa de algo parecido. Sempre que tentavam se comunicar uma com a outra, a Razão dizia que a Intuição era muito emocional e repentina.

A Intuição replicava que a Razão era muito fria e lógica, não fazia nada sem medir, sem pensar. Que a vida nem sempre é para ser entendida como uma equação.

- Eu também penso, sabia? Mas tem uma diferença. Sempre deixo espaço para o Inesperado, o Inusitado, o Alternativo se manifestarem. Eles também têm e querem dar sua opinião. E da combinação da opinião deles com a minha, grandes ideias podem surgir. Só você Razão, não dá conta do recado.

- Não preciso trabalhar em conjunto, tenho regras e técnicas para seguir.

- A vida é um conjunto de incertezas e aproximações, e hoje até os físicos sabem e admitem disso. Não dá mais para ficar achando que tudo pode ser medido, pesado, reduzido a um mecanismo.

- Mas comigo a humanidade obteve grandes descobertas que ajudaram em seu desenvolvimento.

- As ideias não vêm de uma só fonte, você tem de reconhecer.

- “A necessidade é a mãe da invenção.”

- Mas e aquelas ideias que a gente tem mesmo sem um propósito a seguir, um problema que pede uma solução?

- ” Penso, logo existo.”

- Além de pensar, temos nossos outros sentidos, ou você se tornou insensível?

- Também não precisa radicalizar. Até eu tenho meus momentos de divagação.

Claro, nada que eu vá levar a sério a ponto de substituir pelo raciocínio lógico.

- Realmente, em muitas coisas você é mesmo insubstituível.

Mas vamos fazer o seguinte. Assim que chegar nosso pedido, proponho que façamos uma experiência. Na verdade é mais uma brincadeira, para vermos até onde podemos ir com nossos estilos de pensamento.

- Lógico, o que mais poderia ser que não uma brincadeira? Você não leva nada a sério mesmo.

- Não pode trabalhar com um pouco mais de possibilidades? Para você que não sabe, brincadeiras são formas livres de trabalharmos com coisas sérias, mas sem os bloqueios da racionalidade.

- Não existe trabalho produtivo sem um método científico.

- Eu vou te mostrar quanto podemos usar de nossos sentidos para formar uma impressão mais definida sobre o que existe à nossa volta.

- E quando começamos esta “brincadeira”?

- Agora mesmo. O material necessário está chegando.

Veja, o garçom já está vindo com o nosso pedido.

- Como? Vamos usar comida para esta experiência?

- Não pense nisso como comida, mas objetos para interação.

- Agora você está sendo analítica Intuição.

- Fiz de propósito, para preparar o clima.

Vamos começar. Preparada?

- Sim, com certeza.

- Observe tudo o que o garçom deixou na mesa. Detenha seu olhar em cada uma das coisas por alguns segundos.

- Tudo observado com memória fotográfica.

- Ótimo. Esta xícara. O que você pode me dizer sobre ela?

- Branca, de cerâmica, lisa sem desenhos decorativos, com circunferência aproximada de 8 centímetros.

- Sem dúvida, uma boa descrição.

A Intuição pegou o bule e despejou café na xícara.

- Agora continue sua descrição.

- Como assim?

- Até agora para descrever o que observava você usou sua capacidade analítica, sua racionalidade. Para tornar mais completa sua descrição experimente usar também sua sensibilidade. Me diga o que pode sentir em relação a esta xícara usando sua capacidade sensorial.

- É contra meus princípios me envolver além do raciocínio. Mas como demonstração da minha boa vontade, tudo bem.

- Pegue a xícara. Agora você está usando o tato, pode sentir o peso e a temperatura. Sinta o aroma do café.
Agora prove um pouco. Então, o que achou?

- O café está muito bom mesmo.

- Engraçadinha. O que eu quis te mostrar com isso foi que podemos ter impressões mais completas se buscamos além do pensamos, o que sentimos.

Da primeira descrição para a segunda, você acrescentou as informações de mais 3 sentidos. Antes, havia observado à distância. Depois tocou, cheirou, degustou. Sua referência ficou mais completa somando sua parte sensível com a racional, não concorda?

- Tenho que admitir que sim, tem toda a razão. Nunca pensei que estas duas partes podiam conviver e se completar.

- Era isso o que eu pretendia te mostrar com esta “experiência”.

- Sabe o que mais? Vou continuar com a “experiência”, este café está uma delícia.

RICARDO  FRUGOLI



Fonte:http://www.contioutra.com/intuicao-x-razao/


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