A Intuição encontrou com a Razão para uma conversa, ou mais uma tentativa de algo parecido. Sempre que tentavam se comunicar uma com a outra, a Razão dizia que a Intuição era muito emocional e repentina.
A Intuição replicava que a Razão era muito fria e lógica, não fazia nada sem medir, sem pensar. Que a vida nem sempre é para ser entendida como uma equação.
- Eu também penso, sabia? Mas tem uma diferença. Sempre deixo espaço para o Inesperado, o Inusitado, o Alternativo se manifestarem. Eles também têm e querem dar sua opinião. E da combinação da opinião deles com a minha, grandes ideias podem surgir. Só você Razão, não dá conta do recado.
- Não preciso trabalhar em conjunto, tenho regras e técnicas para seguir.
- A vida é um conjunto de incertezas e aproximações, e hoje até os físicos sabem e admitem disso. Não dá mais para ficar achando que tudo pode ser medido, pesado, reduzido a um mecanismo.
- Mas comigo a humanidade obteve grandes descobertas que ajudaram em seu desenvolvimento.
- As ideias não vêm de uma só fonte, você tem de reconhecer.
- “A necessidade é a mãe da invenção.”
- Mas e aquelas ideias que a gente tem mesmo sem um propósito a seguir, um problema que pede uma solução?
- ” Penso, logo existo.”
- Além de pensar, temos nossos outros sentidos, ou você se tornou insensível?
- Também não precisa radicalizar. Até eu tenho meus momentos de divagação.
Claro, nada que eu vá levar a sério a ponto de substituir pelo raciocínio lógico.
- Realmente, em muitas coisas você é mesmo insubstituível.
Mas vamos fazer o seguinte. Assim que chegar nosso pedido, proponho que façamos uma experiência. Na verdade é mais uma brincadeira, para vermos até onde podemos ir com nossos estilos de pensamento.
- Lógico, o que mais poderia ser que não uma brincadeira? Você não leva nada a sério mesmo.
- Não pode trabalhar com um pouco mais de possibilidades? Para você que não sabe, brincadeiras são formas livres de trabalharmos com coisas sérias, mas sem os bloqueios da racionalidade.
- Não existe trabalho produtivo sem um método científico.
- Eu vou te mostrar quanto podemos usar de nossos sentidos para formar uma impressão mais definida sobre o que existe à nossa volta.
- E quando começamos esta “brincadeira”?
- Agora mesmo. O material necessário está chegando.
Veja, o garçom já está vindo com o nosso pedido.
- Como? Vamos usar comida para esta experiência?
- Não pense nisso como comida, mas objetos para interação.
- Agora você está sendo analítica Intuição.
- Fiz de propósito, para preparar o clima.
Vamos começar. Preparada?
- Sim, com certeza.
- Observe tudo o que o garçom deixou na mesa. Detenha seu olhar em cada uma das coisas por alguns segundos.
- Tudo observado com memória fotográfica.
- Ótimo. Esta xícara. O que você pode me dizer sobre ela?
- Branca, de cerâmica, lisa sem desenhos decorativos, com circunferência aproximada de 8 centímetros.
- Sem dúvida, uma boa descrição.
A Intuição pegou o bule e despejou café na xícara.
- Agora continue sua descrição.
- Como assim?
- Até agora para descrever o que observava você usou sua capacidade analítica, sua racionalidade. Para tornar mais completa sua descrição experimente usar também sua sensibilidade. Me diga o que pode sentir em relação a esta xícara usando sua capacidade sensorial.
- É contra meus princípios me envolver além do raciocínio. Mas como demonstração da minha boa vontade, tudo bem.
- Pegue a xícara. Agora você está usando o tato, pode sentir o peso e a temperatura. Sinta o aroma do café.
Agora prove um pouco. Então, o que achou?
- O café está muito bom mesmo.
- Engraçadinha. O que eu quis te mostrar com isso foi que podemos ter impressões mais completas se buscamos além do pensamos, o que sentimos.
Da primeira descrição para a segunda, você acrescentou as informações de mais 3 sentidos. Antes, havia observado à distância. Depois tocou, cheirou, degustou. Sua referência ficou mais completa somando sua parte sensível com a racional, não concorda?
- Tenho que admitir que sim, tem toda a razão. Nunca pensei que estas duas partes podiam conviver e se completar.
- Era isso o que eu pretendia te mostrar com esta “experiência”.
- Sabe o que mais? Vou continuar com a “experiência”, este café está uma delícia.
RICARDO FRUGOLI
Fonte:http://www.contioutra.com/intuicao-x-razao/
Nenhum comentário:
Postar um comentário