Intertimento

Não se admire ou pense que eu escrevi errado, o nome é "Intertimento" mesmo, algo de significado parecido com entretenimento. O que se busca aqui é interagir com uma linguagem simples e cotidiana, de forma a garantir a todos o entendimento acerca dos assuntos tratados.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Texto


Dentro de nós, a alegria

Seu sintoma mais bonito é nos jogar para fora, de encontro ao mundo e a nós mesmos.


A alegria vem de dentro ou de fora de nós? A pergunta me ocorre no meio de um bloco de carnaval, enquanto berro os versos imortais de Roberto Carlos, cantados em ritmo de samba: “Eu quero que você me aqueça neste inverno, e que tudo mais vá pro inferno”.

Estou contente, claro. Ao meu redor há um grupo de amigos e uma multidão ruidosa e colorida. Ainda assim, a resposta sobre a alegria me ilude. Meu coração sorri em resposta a essa festa ou acha nela apenas um eco do seu próprio e inesperado contentamento?
Embora simples, a pergunta não é trivial. Se sou capaz de achar em mim a alegria, a vida será uma. Se ela precisa ser buscada fora, permanentemente, será outra, provavelmente pior.

Penso no amor, fonte permanente de júbilo e apreensão.

Quando ele nos é subtraído, instala-se em nós uma tristeza sem tamanho e sem fim, que tem o rosto de quem nos deixou. Ela vem de fora, nos é imposta pelas circunstâncias, mas torna-se parte de nós. Um luto encarnado. Um milhão de carnavais seriam incapazes de iluminar a escuridão dessa noite se não houvesse, dentro de nós, alguma fonte própria de alegria. Nem estaríamos na rua, se não fosse por ela. Nem nos animaríamos a ver de perto a multidão. Ficaríamos em casa, esmagados por nossa tristeza, remoendo os detalhes do que não mais existe. Ao longe, ouviríamos a batucada, e ela nos pareceria remota e alheia.

Nossa alegria existe, entretanto. Por isso somos capazes de cantar e dançar quando o destino nos atinge.

Nossa alegria inata se manifesta como força e teimosia: ela nos põe de pé quando nem sairíamos da cama. Ele se expõe como esperança: acreditamos que o mundo nos trará algo melhor esta manhã; quem sabe esta noite; domingo, talvez. Ela nos torna sensível à beleza da mulher estranha, ao sorriso feliz do amigo, à conversa simpática de um vizinho, aos problemas do colega de trabalho. Nossa alegria cria interesse pelo mundo e nos faz perceber que ele também se interessa por nós.

Por mínima que seja, essa fonte de luz e energia é suficiente para dar a largada e começar do zero. Um dia depois do outro. Todos os dias em que seja necessário.

Quando se está por baixo, muito caído, não é fácil achar o interruptor da nossa alegria. A gente tem a sensação de que alegria se extinguiu e com ela o nosso desejo de transar e de viver, que costumam ser a mesma coisa. Mas a alegria está lá - feita de boas memórias, do amor que nos deram, do carinho que a gente deu aos outros. Existe como presença abstrata mas calorosa, que nos dirige aos outros, que nos faz olhar para fora. É isso a alegria: algo de dentro que nos leva ao mundo e nos permite o gozo e a reconhecimento de nós mesmos, no rosto do outro. Empatia e simpatia. Amor.

Se a alegria vem de dentro ou de fora? De dentro, claro. Mas seu sintoma mais bonito é nos jogar para fora, de encontro à música e à dança do mundo, ao encontro de nós mesmos.


IVAN MARTINS




Fonte:http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/02/dentro-de-nos-balegriab.html

Música

Por onde andei – Nando Reis



“Amor eu sinto a sua falta e a falta é a morte da esperança”


Nando Reis ficou famoso por ter sido baixista de uma das maiores bandas de rock nacional de todos os tempos, a banda Titãs. Porém, Nando também é um grande compositor, para muitos, o melhor desde que Renato Russo e Cazuza nos deixaram.

É difícil escolher uma música de Nando Reis e dizer que essa cañção é mais bonita do que outras, afinal, a obra de Nando Reis é rica em músicas de amor, vida e família.

A letra da canção mostra um homem arrependido por ter perdido o grande amor da sua vida. Ele só foi perceber o quanto sua amada fazia falta, após a relação ter acabado. Percebe que a vida é muito frágil e só é possível viver se for por amor.Por onde andei foi gravada, pela primeira vez, no primeiro álbum de Nando Reis após deixar o Titãs. O álbum MTV Ao Vivo trazia grandes sucessos da carreira de Nando Reis, mesmo assim, a canção conseguiu se destacar e hoje é um dos maiores sucessos do cantor e compositor.

É uma declaração de amor a uma pessoa que foi perdida, mas que ele acredita que pode ser recuperada. Para isso, reconhece que agiu como uma criança, se deu menos do que poderia se dar, levando ao fim do relacionamento.

Para quem já se arrependeu das atitudes tomadas dentro de um relacionamento, Por onde andei surge como um verdadeiro hino. Mostra que nem sempre tudo está perdido e o primeiro passo para a reconquista é o arrependimento.




Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado
E eu entendo

As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança

Por onde andei
Enquanto você me procurava?
Será que eu sei
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava?

Amor, eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança
Como um dia que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama

Por onde andei
Enquanto você me procurava?
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava?

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Uh! Uh! Uh!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Uh! Uh! Uh!

Amor, eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança
Como um dia que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama

Por onde andei
Enquanto você me procurava?
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava?

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Uh! Uh! Uh!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Uh! Uh! Uh!

Por onde andei
Enquanto você me procurava?
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava?



Fonte: https://musicasbrasileiras.wordpress.com/page/8/

Filme

Além das Luzes

A jovem e talentosa artista Noni Jean (Gugu Mbatha-Raw) alcança a sonhada fama, mas não consegue lidar muito bem com as complexidades do estrelato e sucumbe ante a pressão da vida pública. Até sua vida ser salva por Kaz Nicol (Nate Parker), um policial designado a protege-la, que pode ser a peça chave que faltava para desbloquear o potencial artístico dela. Apesar dos protestos de seus respectivos pais, que querem que os jovens concentrem-se em suas próprias carreiras, os dois vão lutar para seguir esse romance.


TRAILER





Fonte: http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-alem-das-luzes-legendado-online.html


Texto


Segundas chances

Quem nunca se pegou pensando que tudo poderia ser diferente se tivesse feito outras escolhas? Estes momentos de arrependimento, de ter vontade de voltar atrás e apagar uma frase dita num momento de raiva ou ter decidido por outro caminho são normais. Porque no presente pode-se avaliar o passado, o tempo dá distanciamento, a emoção experimentada então já diminuiu. É natural ter a compreensão tardia, mas, na realidade, naquele momento, talvez tenha sido a atitude possível, de acordo com a maturidade e os recursos emocionais da pessoa.

É razoável entender que se fez o melhor possível na situação, e que provavelmente não se estivesse preparado para agir de outra maneira. O problema é quando o indivíduo se arrepende e não se sente capaz de sair de uma situação que provoca sofrimento, seja um relacionamento ou uma profissão. Há várias explicações, como temor do desconhecido ou de um novo fracasso, e o pensamento: Se errei antes, quem garante que acertarei agora? Dessa forma, a pessoa se acomoda, tentando acreditar que talvez as coisas se resolvam, preferindo não apostar no que considera um risco.

Se o sujeito subestima a si mesmo ou busca a perfeição nunca estará satisfeito com as pequenas vitórias. O arrependimento não pode se tornar constante, uma sombra que impede de enxergar as novas oportunidades que a vida oferece. Usar a lição do fracasso para não repetir o erro é mais indicado do que lastimá-lo indefinidamente e se apegar a ele como desculpa para não mudar. Conformar-se com o que não traz sorriso ao rosto e calor ao coração é uma traição a si mesmo e injusto para com as pessoas que compartilham sua vida.

Pensamentos negativos de que se é incapaz ou impotente aumentam o sofrimento e podem levar da tristeza à depressão. Tudo piora se o indivíduo fica preso ao que passou e deixa de viver o presente. Lamentar o que se fez ou o que se deixou de fazer pode se tornar doença. Amargura, arrependimento, culpa são emoções tóxicas que envenenam a alma. Experimentar insatisfação, angústia e frustração quando um projeto fracassa é natural, mas ficar preso a estas emoções é paralisante e impede que se pense em formas de resolver a situação ou, ao menos, superá-la da melhor forma possível.

Aceitar o que não pode ser modificado, porque está fora do controle da pessoa, assimilar os erros, para não repeti-los no futuro, tirando dos mesmos importantes lições de vida, buscar as evidências de que não se pode fazer diferente nem tentar algo novo, por incapacidade ou falta de oportunidade, são atitudes positivas que tiram do imobilismo, questionam crenças de desesperança e possibilitam transformação significativa da qualidade de vida. O autoconhecimento, com a descoberta de si mesmo e do próprio potencial, é a chave para uma existência plena, ampliando a visão de mundo e possibilitando segundas chances. 

Maria Cristina Ramos Britto




Fonte: http://www.contioutra.com/segundas-chances/

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Texto


Janelas de oportunidade
Elas aparecem simultaneamente na vida de duas pessoas e tornam os encontros possíveis...

O amor, como tantas outras coisas, depende de oportunidades. A pessoa que hoje vira do avesso a minha vida, em outro momento poderia ter passado sem ser notada. Bastaria que houvesse alguém ocupando meus sentimentos. Ou satisfatoriamente a minha cama. Eu estaria indisponível aos apelos dela - e um caminho possível da nossa história seria fechado, antes mesmo de começar.

Acho que ainda não se escreveu suficientemente sobre a importância das janelas de oportunidades. Elas aparecem simultaneamente na vida de duas pessoas e tornam os encontros possíveis. Ou não aparecem, e nada se materializa. Um fica parado diante do outro, mas o tempo não oferece uma passagem que os ligue.

No passado, aquela pessoa me quis, mas eu estava envolvido com outro alguém. Quando o envolvimento terminou e olhei em volta, quem me queria não estava mais só. Aquilo que talvez pudesse acontecer não aconteceu. Faltou a janela. Foi preciso esperar outra volta do destino. Em alguns casos ela veio. Em outros, não. É assim. Certos romances não se concretizam. Vibram na memória apenas como possibilidade, para sempre.

Quando a gente fica mais velho, as coisas tornam-se mais complicadas. Os envolvimentos já não duram semanas ou meses. Frequentemente duram anos. As janelas de oportunidade são raras. Se você gosta de alguém que se casou, vai ter de esperar um tempo enorme para que o trem passe de volta. E talvez ele nunca passe. 

Há também o complicador do luto. Você está discretamente feliz porque aquela mulher – ou aquele homem – finalmente saiu de uma relação deteriorada que durava anos. Agora, finalmente, ela – ou ele – está disponível para conhecer melhor você e seus sensuais sentimentos. Só há um problema, que se revela na primeira hora de conversa: a pessoa está mortalmente triste. Arrasada mesmo. Topa sair, conversar, beber. Como está carente, pode haver até sexo, mas talvez fosse melhor evitar. Nesse momento de luto e confusão sentimental, o ser humano habita um espaço emocional peculiar onde as coisas acontecem mas, de alguma forma, não são inteiramente registradas. Ou devidamente apreciadas. Suas oportunidades com ela – ou com ele – podem ser queimadas pela precipitação do contato. Ao contrário do que parece, a janela não está realmente aberta.

Por essa razão e por outras, talvez não valha a pena esperar demais pelas janelas de oportunidade dos outros. O dia de amanhã é insondável e o coração das pessoas, também. Hoje, comprometida, a Fulana parece muito interessada em você. Amanhã, separada, ela solenemente o ignora. Acontece o tempo todo, assim como o contrário. Não há garantias.
Melhor construir o futuro com o material inesperado do presente. Gente nova. Novas oportunidades. Se uma janela antiga se abrir, olharemos para o seu interior cuidadosamente. Se ela jamais se apresentar, contaremos que a tarde nos traga uma surpresa. A vida, afinal, é o que acontece enquanto fazemos planos. Melhor deixar-se arrebatar.

Nosso coração, porém, tem suas manias. Às vezes, é inevitável desejar o que desejamos. Se aquela criatura é tão fascinante, se tê-la nos braços é o que você espera há tanto tempo, não tenha medo – mergulhe na janela de oportunidade e faça o possível.

Convide, cultive, coloque-se com carinho e com clareza. Faça a sua parte com empenho. Se não der certo, vire a página. Isso é muito, muito importante. Ao fechar uma janela, você sinaliza ao universo que espera por outra. Ao virar as costas, permite que a sua própria janela se abra novamente. Quem gira e resmunga ao redor dos outros, não abre espaço para nada. Quem entende e sai, consente que a vida recomece.

Neste universo dominado pelo tempo e pelas circunstâncias que ele cria, os gestos são fundamentais. Gestos claro de aproximação e de afastamento. Eles constroem a sorte. Fazem com que as janelas se transformem em oportunidades concretas. Permitem que o amor deixe de ser uma possibilidade latejante no futuro para se tornar algo presente. Não sabemos quando o destino vai nos abrir uma janela, mas nos cabe decidir, agora, o que fazer diante dela.

IVAN MARTINS



Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/janelas-de-oportunidade.html

Filme

Sem Perdão

Victor (Colin Farrel) trabalha como o braço direito de um grande criminoso em Nova York. Um dia, ele encontra Beatrice (Noomi Rapace), vítima de um crime, que considera Victor o homem perfeito para ajudá-la em sua vingança. Para convencê-lo a cooperar, ela o chantageira com provas de um assassinato que Victor cometeu.




TRAILER


Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-199062/

Música


Não deixe o samba morrer – Alcione


” O morro foi feito de samba, de samba para a gente sambar”.



Clássico do samba, Não deixe o samba morrer é uma canção que fala sobre a importância do ritmo para o brasileiro, principalmente para o que vive no morro e respira samba a todo momento. Interpretada por Alcione, uma das maiores vozes do país, a canção permaneceu durante 22 semanas em primeiro lugar nas paradas de sucesso, mesmo sendo lançada no primeiro álbum da cantora.

Não deixe o samba morrer é um apelo de um sambista para que o samba permaneça vivo para sempre, afinal, o ritmo era a função da vida daquele sambista e , segundo ele, é também a função de vida de muitos que vivem no morro. Ele diz que o morro nasceu para sambar, portanto, o mais brasileiro dos ritmos não pode morrer jamais.

Até hoje Alcione faz sucesso com a canção. Uma prova de que o samba não morreu.A canção também ressalta o carnaval e sua importância. Para um sambista, não importa se ele desfilará ou não, ele sempre continuará torcendo por sua escola de coração, ouvindo o samba de sua escola e nada mais o fará tão feliz.




Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...

Quando eu não puder
Pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas
Não puderem agüentar
Levar meu corpo
Junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar...

Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...

Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De Samba, prá gente sambar...

Quando eu não puder
Pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas
Não puderem aguentar
Levar meu corpo
Junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar...

Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
A Mangueira
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...

Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De Samba, pra gente sambar...



                                                                                                                                                                                                     Fonte: https://musicasbrasileiras.wordpress.com/page/7/

domingo, 5 de abril de 2015

Música

Ovelha Negra – Rita Lee & Tutti Frutti

“Tire isso da cabeça e ponha o resto no lugar!”

Rita Lee é considerada a maior rockeira brasileira. Tal reconhecimento veio a partir do lançamento de Fruto Proibido, álbum que revolucionou a forma de se fazer rock no Brasil.

A rockeira iniciou sua carreira na banda Os Mutantes. Lá, tocou de 1966 a 1972, quando foi expulsa com a desculpa de que ela não tinha o virtuosismo do rock progressivo pretendido pela banda. A verdade é que após a saída de Rita, Os Mutantes nunca mais fizeram muito sucesso e nem empolgaram um grande público.

Rita provou a todos que o seu talento era muito maior do que pensavam e conseguiu dar o troco nos integrantes do Os Mutantes com uma canção vibrante, emotiva e que se assemelha a história de muita gente.Rita Lee ficou arrasada com a expulsão e só foi mostrar que estava recuperada quando lançou Ovelha Negra, em 1975. Com essa canção, a cantora e compositora mostrou como se sentiu quando foi expulsa e como se encontrava após 3 anos do ocorrido. Rita Lee simplesmente calou a boca daqueles que falaram mal dela e, mesmo tendo sido tratada como uma ovelha negra, alcançou um sucesso maior do que Os Mutantes. O disco Fruto Proibido vendeu 200 mil cópias no ano em que foi lançado, um recorde para um disco de rock nacional.

Ovelha Negra é o hino de quem foi praticamente jogado no mundo e teve que se virar sozinho, sem a ajuda da família, mesmo assim venceu e agora quer mostrar para todos o que conseguiu. Uma canção forte, ainda melhor com a interpretação da rainha do rock nacional.



Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra
E água fresca
Meu Deus!
Quanto tempo eu passei
Sem saber!
Uh! Uh!...

Foi quando meu pai
Me disse:
"Filha, você é a Ovelha Negra
Da família"
Agora é hora de você assumir
Uh! Uh! E sumir!...

Baby Baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby Baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
Ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
Oh! Oh! Ah!
Tchu! Tchu! Ah! Ah!...

Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra
E água fresca
Meu Deus!
Quanto tempo eu passei
Sem saber!
Han!! Han!...

Foi quando meu pai
Me disse:
"Filha, você é a Ovelha Negra
Da família"
Agora é hora de você assumir
Uh! Uh! E sumir!...

Baby Baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby Baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
Ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
(Ovelha Negra da Família!)
Tchu! Tchu! Tchu!
Não! Vai sumir!...


Fonte: https://musicasbrasileiras.wordpress.com/page/7/
INTUIÇÃO X RAZÃO


A Intuição encontrou com a Razão para uma conversa, ou mais uma tentativa de algo parecido. Sempre que tentavam se comunicar uma com a outra, a Razão dizia que a Intuição era muito emocional e repentina.

A Intuição replicava que a Razão era muito fria e lógica, não fazia nada sem medir, sem pensar. Que a vida nem sempre é para ser entendida como uma equação.

- Eu também penso, sabia? Mas tem uma diferença. Sempre deixo espaço para o Inesperado, o Inusitado, o Alternativo se manifestarem. Eles também têm e querem dar sua opinião. E da combinação da opinião deles com a minha, grandes ideias podem surgir. Só você Razão, não dá conta do recado.

- Não preciso trabalhar em conjunto, tenho regras e técnicas para seguir.

- A vida é um conjunto de incertezas e aproximações, e hoje até os físicos sabem e admitem disso. Não dá mais para ficar achando que tudo pode ser medido, pesado, reduzido a um mecanismo.

- Mas comigo a humanidade obteve grandes descobertas que ajudaram em seu desenvolvimento.

- As ideias não vêm de uma só fonte, você tem de reconhecer.

- “A necessidade é a mãe da invenção.”

- Mas e aquelas ideias que a gente tem mesmo sem um propósito a seguir, um problema que pede uma solução?

- ” Penso, logo existo.”

- Além de pensar, temos nossos outros sentidos, ou você se tornou insensível?

- Também não precisa radicalizar. Até eu tenho meus momentos de divagação.

Claro, nada que eu vá levar a sério a ponto de substituir pelo raciocínio lógico.

- Realmente, em muitas coisas você é mesmo insubstituível.

Mas vamos fazer o seguinte. Assim que chegar nosso pedido, proponho que façamos uma experiência. Na verdade é mais uma brincadeira, para vermos até onde podemos ir com nossos estilos de pensamento.

- Lógico, o que mais poderia ser que não uma brincadeira? Você não leva nada a sério mesmo.

- Não pode trabalhar com um pouco mais de possibilidades? Para você que não sabe, brincadeiras são formas livres de trabalharmos com coisas sérias, mas sem os bloqueios da racionalidade.

- Não existe trabalho produtivo sem um método científico.

- Eu vou te mostrar quanto podemos usar de nossos sentidos para formar uma impressão mais definida sobre o que existe à nossa volta.

- E quando começamos esta “brincadeira”?

- Agora mesmo. O material necessário está chegando.

Veja, o garçom já está vindo com o nosso pedido.

- Como? Vamos usar comida para esta experiência?

- Não pense nisso como comida, mas objetos para interação.

- Agora você está sendo analítica Intuição.

- Fiz de propósito, para preparar o clima.

Vamos começar. Preparada?

- Sim, com certeza.

- Observe tudo o que o garçom deixou na mesa. Detenha seu olhar em cada uma das coisas por alguns segundos.

- Tudo observado com memória fotográfica.

- Ótimo. Esta xícara. O que você pode me dizer sobre ela?

- Branca, de cerâmica, lisa sem desenhos decorativos, com circunferência aproximada de 8 centímetros.

- Sem dúvida, uma boa descrição.

A Intuição pegou o bule e despejou café na xícara.

- Agora continue sua descrição.

- Como assim?

- Até agora para descrever o que observava você usou sua capacidade analítica, sua racionalidade. Para tornar mais completa sua descrição experimente usar também sua sensibilidade. Me diga o que pode sentir em relação a esta xícara usando sua capacidade sensorial.

- É contra meus princípios me envolver além do raciocínio. Mas como demonstração da minha boa vontade, tudo bem.

- Pegue a xícara. Agora você está usando o tato, pode sentir o peso e a temperatura. Sinta o aroma do café.
Agora prove um pouco. Então, o que achou?

- O café está muito bom mesmo.

- Engraçadinha. O que eu quis te mostrar com isso foi que podemos ter impressões mais completas se buscamos além do pensamos, o que sentimos.

Da primeira descrição para a segunda, você acrescentou as informações de mais 3 sentidos. Antes, havia observado à distância. Depois tocou, cheirou, degustou. Sua referência ficou mais completa somando sua parte sensível com a racional, não concorda?

- Tenho que admitir que sim, tem toda a razão. Nunca pensei que estas duas partes podiam conviver e se completar.

- Era isso o que eu pretendia te mostrar com esta “experiência”.

- Sabe o que mais? Vou continuar com a “experiência”, este café está uma delícia.

RICARDO  FRUGOLI



Fonte:http://www.contioutra.com/intuicao-x-razao/


Filme

Boa Sorte

O adolescente João (João Pedro Zappa) tem uma série de problemas comportamentais: ele é ignorado pelos pais e se torna agressivo com os amigos de escola. Quando é diagnosticado com depressão, seus familiares decidem interná-lo em uma clínica psiquiátrica. No local, ele conhece Judite (Deborah Secco), paciente HIV positivo e dependente química, em fase terminal. Apesar do ambiente hostil, os dois se apaixonam e iniciam um romance. Mas Judite tem medo que a sua morte abale a saúde de João.

 


TRAILER




Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-218415/

sábado, 4 de abril de 2015

Filme

Olhar de Anjo

Sharon Pogue (Jennifer Lopez) é uma policial de Los Angeles que luta contra as pressões naturais de sua profissão e ainda o trauma de ter sido abusada na infância. Sua vida é alterada para sempre quando ela é salva por Catch (James Caviezel), um homem que perdeu recentemente sua esposa e filho em um acidente de carro. Logo um romance entre eles tem início, mas eles precisarão resolver suas dívidas com o passado antes de ficarem juntos.



TRAILER



 Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-28519/

Música

Apenas um rapaz latino-americano – Belchior



isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente. Quer dizer… a vida é muito pior!”

Lançada e escrita em 1976 (época de ditadura militar), Apenas um rapaz latino-americano é uma canção que caracteriza, de maneira irônica, o Brasil do período. Em 1976, cantores e compositores eram deportados do país para não sofrerem punições mais severas, muitas delas físicas.

Belchior utilizou um pouco de sua história e da história contada no período para poder expressar tudo o que o povo brasileiro, principalmente os cantores, sentiam naquele momento. Impedidos de criticarem a política do país, os intérpretes de canções eram tratados como principais opositores ao regime militar. Para Belchior, eles eram apenas rapazes latino – americanos,que não tinham muito dinheiro e não estavam satisfeitos com o que viam.


Eu sou apenas um rapaz latino – americano sem dinheiro no banco e vindo do interior – Nesses versos, Belchior deixa claro como se sente e como é o povo brasileiro da época.

Mas trago de cabeça uma canção do rádio, em que o antigo compositor baiano me dizia que tudo é divino, tudo é maravilhoso – Nesses versos, Belchior fala de Caetano Veloso e do movimento Tropicália, mas precisamente da música É proibido proibir, que fala que tudo é maravilhoso.

(…) Não tenho um amigo sequer que ainda acredite nisso, não! – tudo muda! e com toda razão – Aqui, Belchior fala que ninguém está satisfeito com o Governo e nem acredita que as coisas irão mudar.

(…) Mas sei que tudo é proibido – aqui Belchior vai contrário a música de Caetano, antes citada, dizendo que TUDO é proibido.

(…) Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve, correta, branca, suave, muito limpa, muito leve. Sons, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém – Nesse trecho, o compositor deixa claro que sua canção não é feita da forma como a ditadura queria e que as palavras irão ferí-la.

(…) Isso é somente uma canção. A vida realmente é diferente.Quer dizer… a vida é muito pior! – Agora, Belchior fala diretamente com os ouvintes e diz que tudo que é retratado na letra da canção ainda é pouco, perto de como é a vida.

(…) Por favor, não saque a arma no “saloon”, eu sou apenas o cantor… – Nesse trecho, o compositor diz que está falando por todos e, portanto, é apenas o cantor de uma música que todos gostariam de estar cantando.

Mas se depois de cantar, você ainda quiser me atirar, mate – me logo! – Mais uma vez é feita uma crítica à forma como o governo militar tratava os compositores que faziam músicas contra a política implantada na época.

(…) Mas sei que nada é divino, nada é maravilhoso, nada é sagrado, nada é misterioso – A música encerra com versos contrários aos ditos por Caetano.

Pela crítica, ironia e coragem de Belchior, Apenas um rapaz latino -americano foi adorada pelo público da época, porém ninguém podia dizer isso, afinal as punições eram fortes.


Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior

Mas trago de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso

Mas trago de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso

Tenho ouvido muitos discos
Conversado com pessoas
Caminhado meu caminho
Papo, som, dentro da noite
E não tenho um amigo sequer
Que ainda acredite nisso não
Tudo muda!
E com toda razão

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior

Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê

Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê

Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém

Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer
A vida é muito pior

E eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Por favor
Não saque a arma no "saloon"
Eu sou apenas o cantor

Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de vocês

Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de vocês

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas sei que nada é divino
Nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é secreto
Nada, nada é misterioso, não

Na na na na na na na na



Fonte: https://musicasbrasileiras.wordpress.com/page/7/

Pra refletir

Sobre a menina síria que se rende ao confundir câmera fotográfica com uma arma...


Quando ainda menina, lia muito Drummond. Achava um exagero ele dizer que chegaria um tempo de absoluta depuração, em que “(…) os olhos não choram./E as mãos tecem apenas o rude trabalho./E o coração está seco.” Mas hoje eu vi no noticiário uma cena muito peculiar, e a verdade do poema me veio à alma, imediatamente. Um fotógrafo, ao tentar retratar a vida das crianças sírias, conseguiu captar não a frieza deste mundo, mas já a sua consequência. Ele enquadra a criança em sua lente e essa levanta os braços, rendida, pensando ser uma arma.

Deus! Que mundo é este, onde a inocência caminha de mãos levantadas e a alma do mundo não sangra, e os olhos dos homens não choram, e a dor já não nos pode chocar? Que mundo é este cujos avanços tecnológicos não encontram eco na evolução moral dos indivíduos e onde só o que conta são os cifrões?

Um mundo cujo colorido já não é convidativo aos olhos. Onde a beleza é preterida. Onde a pureza dos pequeninos ainda é roubada e banhada do sangue de seus pares, de seus pais e, não raro, do seu próprio sangue. Um mundo cujas crianças já têm a esperança prematuramente envelhecida pela dor que transborda dos noticiários e que não raro floresce ao seu lado. Um mundo em que, a cada dia, o homem teme mais e mais o próprio homem.

Frequentei um curso, há um tempo, e algo me deixou sobremodo perplexa. O instrutor mostrava-nos diversos vídeos com acidentes causados por veículos. Em dada situação, um homem fora atropelado por não olhar para a sua direita quando um carro vinha na contra mão. Alguns dos colegas, a maioria jovens entre 18 e 25 anos, riram da cena. Noutro atropelamento, a maioria riu. Esboçaram alguma comoção, leve, quando uma criança foi atropelada. Mas, pasmem: um cachorro foi atropelado e, nesse momento, houve uma comoção geral: “Ah, pobrezinho! Tadinho dele!”. 

A banalização da dor do outro é hoje tamanha que os jovens se identificam mais e se comovem mais com a dor de um animal que com a dor de um homem ou de uma criança.

A dor do outro é estatística. “Quanta mortes, mesmo, na Síria? Quantos desabrigados no Acre? Quantas mulheres são agredidas por ano? Quantas crianças são estupradas por parentes próximos?” Não! Essa postura desmerece o infinito que somos, desautoriza a angelitude a que estamos destinados, desmente a centelha do Eterno que permeia a alma de cada um de nós!

Necessitamos ver o outro como parte desprendida, mas ainda ligada a nós por lanços infindáveis de natureza espiritual. Ninguém pode ser plenamente feliz enquanto um só de nós estiver de braços levantados, rendida criança assustada pelos estrondos da guerra, cativa da dor e da morte. Esfomeada de uma Justiça que ela não pode compreender ou dizer, mas, humana que é, já a pode desejar e de sua falta se ressentir.

Que esta criança que hoje vi de mãos levantadas por confundir a câmera com uma arma possa ainda, é o que utopicamente desejo, levantar novamente as suas mãos, mas não por medo. Que ela ainda possa, na pontinha dos pés, elevar os seus braços para brincar com as estrelas.

NARA RÚBIA RIBEIRO






Fonte:http://www.contioutra.com/sobre-a-menina-siria-que-se-rende-ao-confundir-camera-fotografica-com-uma-arma/

sexta-feira, 3 de abril de 2015


A chave


Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo...



Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.

O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.

Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de confiança.

Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.

O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que uma porta. Abre um novo tempo.

Você tem certeza de que ela ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais estarão sozinhos.

É claro que nem toda chave abre passagens luminosas para o futuro. Às vezes, elas encerram um tempo que acabou. É a chave que se lança por debaixo da porta ao sair, no meio da noite, como declaração silenciosa de quem não pretende voltar. Ou a chave que se coloca sobre a mesa, depois de uma conversa triste, como selo de separação. Há também a chave que se atira com raiva e frustração - contra a parede, pela janela, no rio - porque ela não leva mais aos sentimentos a que antes conduzia. Ou a chave da casa nova que alguém nega, com um olhar obstinado de desculpas.

Se essas chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.

Mais triste do que isso é nunca ter recebido a chave, não ter atingido aquele momento de intimidade e confiança em que o outro diz, com um gesto, “mi casa es tu casa”. O que equivale a dizer minha vida é a sua vida.

A gente sabe que essas coisas às vezes são efêmeras, mas é tão bonito.

Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.

Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca, oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.


 IVAN MARTINS



Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html